UM RAIO-X NA ESTRUTURA DA ARGUMENTAÇÃO
Ian Bremmer, é o presidente do Eurasia Group, umas das maiores consultorias de negócios da atualidade, com especialização em política internacional. Ele tem ganhado cada vez mais projeção com análises rápidas e precisas publicadas em seu canal Gzero Media, sobre as transformações recentes do mundo contemporâneo. Além da excelente capacidade de leitura e interpretação da realidade, Ian tem a sua disposição uma grande rede de informação e é também um exímio orador. Não a toa, o Grupo Eurásia ocupa a posição onde está.
Nessa semana foi divulgado um TED TALK onde Ian traz a seguinte provocação para a audiência: Quais serão as grandes potências do mundo? O assunto é atual e de interesse geral. O apresentador tem credenciais de sobra. Por conta da oportunidade, resolvemos fazer uma avaliação técnica da dinâmica do discurso e dos elementos que constroem essa argumentação. Vejam o que acham…
ANÁLISE DO CONTEXTO: Ian hoje ocupa um posto – presidente da Eurásia – que lhe confere uma certa autoridade. Ele construiu uma empresa com presença mundial, fazendo análises e previsões políticas e econômicas. Dessa forma, o público que o assiste está aberto a ouvi-lo com uma pressuposta adesão ao discurso dele. No entanto, vários dos temas que ele abordará, também são de conhecimento de todos, portanto, o público irá em algum momento julgar a coerência dos fatos de acordo com a verdade subjetiva de cada um. Ian tem consciência disso e se prepara para abordar os assuntos dentro desse cenário, se utilizando dos melhores recursos do seu arsenal de comunicador para persuadir a todos.
ENTRADA – em menos 10 segundos, ele entra e faz a pergunta para a audiência. Mesmo que ninguém responda em voz alta, começar com uma pergunta é uma excelente maneira de abrir um “diálogo” com seus interlocutores. Quando perguntamos algo, estabelecemos o ponto de partida.
INTERVALO 10″ até 1’31” – ciente da diferença etária do público, Ian faz questão de embarcar todos dentro da mesma jornada, fazendo um breve resumo pós WWII e trazendo a platéia para um mundo pré crise financeira do Sub Prime em 2008.
PROJEÇÃO ANIMAÇÃO – nesse momento Ian já está no 4º clique da animação da sua apresentação. Para ajudar a audiência a caminhar no mesmo passo que o seu argumento, ele conta como suporte o outline de um mapa-mundi, que vai preenchendo diferentes regiões de acordo com o avanço da história e a divisão de forças. Reparem que o conteúdo está nele, na imagem projetada não tem uma linha de texto se quer.

INTERVALO 1’32” até 3’15”- novamente buscando o reengajamento da platéia, Ian pergunta o que teria acontecido com o mundo. Ele mesmo responde faz um resumo histórico dos últimos 15 anos. Ele cita 3 temas sob os quais o mundo teria vivido durante esse tempo, sendo eles: (1) a perda de força russa entre nações ocidentais, (2) o fortalecimento da participação na China na economia (3) a frustração de eleitores de classe média, com seus líderes em todas as partes do mundo. Ele então começa a formar a imagem de que esse período com Rússia enfraquecida, China crescendo e eleitores, em específico nos EUA, frustrados com seus líderes teria criado um vácuo de força central no mundo. É aqui que ele constrói o cenário por onde a previsão dele se tonará uma realidade.
INTERVALO 3’16” até 8’20” – Vem a terceira pergunta – “what comes next?”. Até agora Iam fez uma releitura de fatos que todos nós acompanhamos, mas a partir desse momento ele começa a construir a tese sobre o futuro – que é a resposta da sua pergunta inicial. Ele cita então os 2 primeiros pontos da construção da sua tese. Não a toa, são temas que estão na pauta diária dos noticiários, e que ocupam a agenda de 100% dos gestores de negócios pelo mundo: segurança e economia. O terceiro e principal ponto é o digital. Ian se utiliza de exemplos recentes e familiares a todos, para reforçar a importância e a influência que a tecnologia tem, tanto na guerra (segurança), quanto nos líderes políticos (economia), ou mesmo em manifestações populares pelo mundo (eleitores insatisfeitos).
INTERVALO 10’02” até 10’28”- Ian faz uma pausa na análise técnica e cria um rico momento de conexão com o auditório, falando sobre defeitos ou fraquezas que ele admite ter. Essa “confissão” é uma forma de exaltar o lado humano e trazer ainda mais para perto o público, principalmente antes do desfecho final do discurso.
INTERVALO 10’29” até 12’19” – a essa altura a tese já está criada, os comandantes da nova ordem já foram identificados, mas ainda é preciso desdobrar um pouco mais as consequências. Ian então, estabelece mais um tripé de alternativas. Aqui vale mais uma observação: não coincidentemente, são sempre 3 itens ou alternativas que ele sugere, pois, três é um número que além de memorizarmos facilmente, também nos permite as alternativas de (1) vitória de um, (2) de outro, ou (3) uma combinação da 2 anteriores, um “empate”.
FINAL a partir de 12’20”- Ian criar uma série de hipóteses dramáticas para justificar uma emergência e, assim, unir a todos para um grande Call to Action. O último recurso na sua jornada de persuasão reforça a sua isenção que ajuda a validar todo o seu discurso – ele sinaliza um desprendimento quando escolhe fazer uma crítica ao próprio país de origem. Para terminar, ele convoca a todos para cobrar os novos líderes sobre a responsabilidade que eles tem para o futuro do mundo.
Concorde você ou não com o discurso do Ian, o assunto é fascinante e desperta inúmeras outras provocações. Se tiver mais interesse, recomendamos que assista a apresentação do Ian Bremmer e leia os comentários feitos.

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